Hipergamia é a preferência por parceiros de maior status socioeconômico — renda, educação ou prestígio. Em sociologia, o antônimo é hipogamia (uniões "para baixo").
O termo não é novo: ganhou forma em traduções do século XIX de textos de direito hindu, que usavam os termos sânscritos anuloma (para cima) e pratiloma (para baixo). No Ocidente, o imaginário da ascensão via casamento — a secretária que se casa com o chefe, imortalizada em séries como Mad Men — foi perdendo força conforme educação e renda femininas avançaram.
Origens e explicações antropológicas
Pesquisas em dezenas de países mostram padrões médios de preferência: homens valorizam mais juventude/atratividade; mulheres, status econômico, educação e ambição. Estudos clássicos (como os de David Buss) apontam consistência intercultural nesses traços.
"A interpretação evolutiva sugere que, em contextos estratificados, a busca por estabilidade material pode favorecer escolhas hipergâmicas — sem excluir fatores culturais e individuais."
Hipergamia em declínio?
Análises de coortes no Reino Unido indicam queda do "marrying up" entre mulheres e leve aumento do "marrying down". Ao mesmo tempo, cresce o chamado assortative mating (casais entre iguais), o que pode reforçar desigualdades quando grupos de alta escolaridade e renda se unem entre si.
Pontos-chave:
- Queda do "marrying up" entre mulheres
- Crescimento do assortative mating
- Persistência da diferença de renda entre cônjuges
Há, porém, estudos que relativizam a ideia de hipergamia como fenômeno exclusivamente feminino e mostram que, em países em que mulheres superam homens em escolaridade, velhos padrões se diluem. Ainda assim, trabalhos recentes apontam persistência da diferença de renda entre cônjuges, com hipóteses que combinam hipergamia de renda e desigualdade salarial.
Redes sociais, "sugar" e a nova hipergamia
Com apps e redes, sinais de status (trabalho, viagens, estilo de vida) ficam mais visíveis e filtráveis. Isso alimenta o que alguns chamam de "hipergamia seletiva": decisões aceleradas por estética de perfil e marcadores de sucesso.

Em paralelo, o estilo de vida "sugar" explicita a troca de benefícios e companhia: preferir parceiros de maior poder econômico não é, por si só, "sugar", mas as áreas se sobrepõem no debate público.
Brasil e Geração Z
Dados recentes de São Paulo:
Mesmo assim, qualidades emocionais seguem no topo: gentileza e bom humor são amplamente priorizados — um indício de que a dimensão afetiva permanece central, ainda que o status pese.
📊 Estudo MeuPatrocínio + QualiBest (SP, 2025)
Levantamento conduzido pelo MeuPatrocínio e o Instituto QualiBest aponta que 35% dos jovens paulistas (18–29) demonstram interesse em hipergamia, à frente de agamia (24%), micro‑romance (19%) e poliamor (18%).
"A Geração Z tende a preferir relações mais 'práticas e descomplicadas', o que ajuda a explicar a visibilidade do tema no recorte jovem." — Caio Bittencourt, especialista
Debate e críticas

Críticos veem na hipergamia o risco de naturalizar papéis de gênero e cristalizar estratificação por classe. Há também um paradoxo demográfico: se cada vez mais mulheres têm alto nível de escolaridade, é matematicamente impossível "casar para cima" em massa.
Os defensores, por outro lado, tratam a hipergamia como escolha pragmática em contextos de instabilidade econômica — e lembram que preferências não são estáticas: mudam com igualdade de gênero, mercado de trabalho e tecnologia.
Conclusão
"A hipergamia não é regra biológica nem moda passageira: é uma lente para entender como economia, cultura, biologia e tecnologia se cruzam nas relações."
Em um cenário de maior autonomia feminina e novas mediações digitais, persistem tanto casais "entre iguais" quanto preferências por "casar para cima". Discuti-la com dados, sem moralismo, ajuda a clarificar expectativas e escolhas.
Sobre o Autor
Escolha Divina é um blog dedicado a explorar as complexidades dos relacionamentos modernos através de uma lente sociológica e antropológica, sempre baseado em dados e pesquisas científicas.
Seja o primeiro a comentar!